10.12.13

“Quem prova desse brigadeiro quer se lambuzar”
Análise das insinuações sexuais implícitas – ou não – nas músicas do ousado e alegre
 
Ao ouvir as músicas do cantor Thiaguinho, não pude deixar de reparar nas insinuações de atos sexuais teoricamente implícitas presentes nelas. Assistindo aos vídeos, me chamou a atenção também as onomatopeias e a expressão corporal do cantor e a reação do público durante as canções.
 
Partindo do mais implícito ao totalmente explícito, temos a música “O Poder do Pretinho”, da qual separei os versos:
“Todo dia eu não posso
Mas de vez em quando eu te dou assistência”

Esta música apresenta a pérola: "quem prova desse brigadeiro quer se lambuzar" – título desta crítica –, em referência à cor da pele do cantor. Dela ainda provém a complementação: "quem prova do brigadeiro nunca mais quer saber de beijinho". De modo figurado, diz que quem se relaciona com um homem negro descobre "o que é bom" e não se interessa mais por homens de tom de pele mais claro.
 
No trecho destacado, temos o termo "dar assistência", que é um eufemismo popular para o sexo. É como diz o provérbio: "quem não dá assistência, abre concorrência". De modo implícito, então, o sexo é lembrado.
 
Em outra música, “Deixa pra Mim”, Thiaguinho canta:
“Vou te ensinar a tirar minha roupa
Vou te deixar louca
Te fazer mulher”

Bem mais explícito, o eu-lírico diz para a mulher mentir para o namorado/marido, para contar que vai ao salão de beleza e, ao invés disso, ficar com ele. Depois, insinua ainda mais o ato, falando em tirar a roupa e deixar a mulher louca. Neste vídeo, os movimentos do cantor ajudam na sedução da plateia.
 
Desta vez nada subentendido, as referências sexuais da canção “Deite que vou lhe usar” começam no título. Em homenagem ao bordão do Coronel Jesuíno, personagem de José Wilker que caiu no gosto popular, na minissérie Gabriela, a música traz a seguinte estrofe:
“Quero a noite inteira sem cansar
Deite que eu vou lhe usar
Fazer aquele amor gostoso”

Falando em deixar louco, o cantor relembra a noite anterior, chamando-a de "furacão de amor". Depois, explicitamente fala para a menina deitar, onde quer que seja, que ele irá lhe usar, isto é, "fazer aquele amor gostoso", conclui.

Outra música em que o sexo é percebido logo no título é a “Motel”. Nesta, não há nada subentendido ou nas entrelinhas. Tudo é dito de forma clara, como podemos perceber nos versos:
“Vamos extravasar no motel
Beijar no motel
Se amar no motel
[...]
Contigo queria ir pro motel
Te beijar todinha até entrar no céu”

A música se inicia com ele descrevendo uma menina numa boate, como ela aparenta e como está agindo. A partir daí, conta como vai ocorrendo o encontro entre os dois, até o interesse de ir para o motel. Entremeado em frases perdidas e melódicas, o cantor narra essa ida deles ao motel e tudo que ele faz com ela até chegar ao “seu céu”.

Porém, em minha opinião, a música que melhor representa esta análise é a “Fugidinha”, do Exaltasamba:
“O jeito é dar uma fugidinha com você
O jeito é dar uma fugida com você”

Esta canção traz a insinuação sexual de forma óbvia, mas complemente subentendida. As crianças e as pessoas com mente pura, diferente de grande parte da população – eu me incluo nesse meio “poluído” – podem não perceber a troca de palavras com sonoridades bastante parecidas. É por razão desse jogo de palavras que a música se tornou um sucesso e é ouvida em qualquer lugar, por qualquer público. Entretanto, se você ainda não percebeu a “maldade” presente, basta ouvir alguém cantar da forma errada – ou seria certa? – uma única vez e nunca mais conseguirá cantar diferente.

O que se pode concluir dessa análise é que o pagode não é diferente do axé (“tudo que é perfeito a gente pega pelo braço / joga ela no meio / mete em cima / mete embaixo / depois de nove meses / você vê o resultado”), do funk (“eu vou cortar você na mão / vou mostrar que sou tigrão / vou te dar muita pressão / então martela, martela / martela o martelão”) e de tantos outros ritmos genuinamente brasileiros quando o assunto é passar uma mensagem sexual sublinhar. Há quem critique e condene. Eu acho que isso não desmerece a nossa música, ao contrário, como é um movimento recorrente, deve ser compreendido. Talvez seja exatamente esse o segredo do sucesso da nossa nova música popular.

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